segunda-feira, 25 de julho de 2011

À espera de um desconhecido

Por Jurgen Souza
         Antes que você me pergunte, caro leitor, se é mentira ou se é verdade o que este breve relato conta, quero lhe assegurar que esse mal fadado acontecimento poderia ter ocorrido em qualquer outra igreja de classe média de nosso país, mas não é que cismou de ser justamente lá pelas bandas de Brasília! Ah, e desta vez nada tem a ver com os políticos profissionais que habitam o nosso imaginário quando ouvimos falar de tão afamada cidade!
         Foi numa dessas igrejas grandes, ricas e bonitas, cheia de gente importante e digna de nota no jornal. Uma grande notícia trouxera muita esperança e alegria a cada pessoa daquela comunidade de fé: Jesus havia voltado e estava em Brasília. Todos vestiram as melhores roupas e foram à igreja para esperá-lo chegar. Nem mesmo a fina e fria chuva daquela noite de novembro impediu – como acontecia normalmente quando o tempo esfriava – que o templo estivesse lotado. O culto, lá dentro, parecia animado. Os instrumentos, as vozes, as palmas... todos pareciam muito felizes.
         Do lado de fora, um homem negro, barbudo, maltrapilho e com uma mochila nas costas tentava entrar na igreja. Um irmão, que fazia as vezes de recepcionista, tentou convencer o pobre homem de que o templo estava lotado e que eles estavam esperando um convidado muito especial. Pela porta de vidro, era possível notar que até um tapete vermelho estava preparado para a recepção do ilustre visitante. O homem, por sua vez, afirmou que ele era o convidado da noite, mas o rapaz da recepção apenas riu, como quem não o havia levado a sério. Ainda assim, o homem continuou insistindo em afirmar que todos ali estavam esperando por ele, até que foi retirado pelo segurança por estar perturbando a tranquilidade do lugar.

        Agarrado pelo braço, ele gritava: “Eu sou Jesus! Eu sou Jesus!”. Os hinos cessaram por um instante. Cessou-se a alegria. Um momento doloroso de silêncio foi feito, enquanto todos olhavam para trás, mas ninguém o reconhecia ou, o que era ainda pior, ninguém o conhecia. Uns e outros ainda cochicharam entre si que seria mesmo um absurdo um mendigo achar que era Jesus. Poucos minutos depois, passada a confusão, todos voltaram a cantar felizes e continuaram esperando a visita de Jesus. Contam os mais velhos que esperaram por quarenta dias e quarenta noites, até que se cansaram e voltaram para casa. Alguns não esperam mais; outros ainda hoje esperam; ninguém, no entanto, parou para pensar que aquele poderia ser de fato o visitante pelo qual tanto ansiavam.  

2 comentários:

  1. Linda estória!
    Obrigada por compartilhá-la.
    Abs!

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  2. Essa está parecendo a história do povo judeu.
    Talvez todos sejamos assim.
    Deus abençoe.
    Graça e paz.

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