Por Jurgen Souza

O pastor da igreja responsável pelos cinco outdoor's espalhados pela cidade, um deles inclusive no trajeto em que passaria a passeata organizada pelos homossexuais, assegurou que não via como provocação ou ofensa as mensagens veiculadas. Não foi o que entendeu a justiça, que ordenou a imediata retirada das mensagens e ameaçou multar a igreja em R$ 10 mil, caso a ordem não fosse cumprida. Contudo, ainda que não houvesse ofensa nas mensagens, não parece nenhum pouco respeitoso e nem mesmo prudente propagar tais ideias em meio a uma passeata que reuniria milhares de pessoas que não compartilham do mesmo pensamento. Mesmo que fosse com a melhor das intenções, uma ação como essa poderia desencadear uma retaliação até mesmo violenta, com a invasão ou a depredação de igrejas evangélicas em geral por parte dos grupos que se sentissem ofendidos.
O que é mais intrigante, porém, nesse ato de irresponsabilidade cometido por essa igreja é que quase todos os dias alguns dos líderes evangélicos mais conhecidos no país bradam aos quatro cantos que as igrejas evangélicas são alvo de perseguição e desrespeito, alegando inclusive que, se o Estado é laico, seria imprescindível respeitar a diversidade religiosa. Contraditoriamente, no entanto, é justamente do segmento evangélico que vêm as mais gritantes ações de desrespeito à diversidade e aos direitos da liberdade de expressão. Aliás, foi justamente a essa liberdade de expressão que o pastor se apegou para se justificar. Segundo ele, os evangélicos estariam apenas “aproveitando a oportunidade que eles estão divulgando a maneira de viver deles para expressar o que Deus diz a respeito”, mas não há dúvida de que um ato como esse pode ser classificado minimamente como de mau gosto e, se for levado mais a sério, configura um tremendo desrespeito ao direito de o outro manifestar sua opinião, já que, como bem disse uma das responsáveis pelo evento, “Todos os seres humanos têm direito a expressar o que quiserem, mas têm o ano todo para fazer isso. Fazer na semana da diversidade é uma maneira de ataque, não tinha essa necessidade”.
O pastor da igreja responsável pelos outdoor's ainda afirmou que os evangélicos amam “essas pessoas (se referindo aos homossexuais), mas a forma que elas vivem está contrária àquilo que Deus diz”. Diante de tal afirmação, cabe questionar: por que não fazer, então, um outdoor falando desse amor? Talvez quando os evangélicos – e não falo isso me excluindo desse grupo – proclamarem mais o amor de Deus ao mundo por meio de suas ações, sendo usados como instrumento da graça redentora que alcança o outro sem precisar desrespeitá-lo, quem sabe o evangelho não seja uma “boa notícia” para essa humanidade já tão atolada em más notícias?