quarta-feira, 3 de julho de 2013

SOMOS TODOS NEOPENTECOSTAIS?


Por Jurgen Souza

As estatísticas do IBGE apontam, desde as últimas décadas do século XX, para um vertiginoso crescimento do percentual de brasileiros que se dizem evangélicos. Em 1980, os evangélicos representavam apenas 6,6% da população; em 1991, eles eram 9% da população; em 2000, esse percentual saltou para 15,4% da população; e em 2010, uma parcela de 22,2% da população brasileira já se declarava evangélica. Todavia, ainda que os evangélicos tenham mesmo crescido quantitativamente, essa explosão gospel parece não ter atingido qualitativamente, salvo raríssimas exceções, a sociedade brasileira ou mesmo a vida diária da maioria dos fiéis que lotam as igrejas evangélicas país afora, favorecendo, assim, a proliferação de práticas sociais e de vivências religiosas que em nada lembram os ensinamentos de Jesus. O mais assustador, porém, é que, embora existam diferenças doutrinárias bastante marcadas entre algumas das muitas denominações do segmento evangélico, esse déficit qualitativo mencionado acima parece ser um problema generalizado, atingindo quase que indistintamente o cotidiano das igrejas evangélicas brasileiras. Na raiz dessa generalização que caracteriza negativamente o meio evangélico, estariam a flexibilização da identidade religiosa na sociedade contemporânea e a difusão, em larga escala, da ideologia neopentecostal através da mídia televisiva.
É inegável que a identidade religiosa dos evangélicos, outrora bem definida e estável, tornou-se agora fragmentada, variável e, por vezes, contraditória, favorecendo o aparecimento de um movimentado trânsito religioso entre as denominações evangélicas ou, ao menos, a mistura de práticas litúrgicas e doutrinárias de denominações diferentes. Por outro lado, amparando-se nessa maior flexibilidade identitária das igrejas evangélicas brasileiras e no poder de influência da abrangente mídia televisiva, a ideologia neopentecostal, à qual se filiam 60% dos evangélicos atualmente, tem se propagado com uma rapidez tamanha e com uma eficiência tal que acabou se inserindo até em igrejas que ainda se consideram tradicionais, como a batista e a presbiteriana, modificando significativamente o perfil dos membros e a postura da liderança no que tange à vivência religiosa e às práticas sociais. A partir dessas constatações, urge refletirmos sobre alguns conceitos que, em virtude da superexposição à ideologia neopentecostal através da mídia televisiva, têm se inserido nas igrejas consideradas tradicionais (ou históricas), minando-lhes a possibilidade de uma vivência religiosa saudável e de uma prática social condizente com os ensinamentos de Jesus.
Com a avassaladora disseminação da ideologia neopentecostal no meio evangélico em geral, até mesmo as igrejas que não se filiam a essa linha de pensamento teológico acabaram absorvendo alguns conceitos comuns ao neopentecostalismo. O primeiro deles consiste na ideia de que Deus, por ser misericordioso e abençoador, seria um mero realizador dos desejos daqueles que se aproximam dele com fé e que contribuem financeiramente na igreja, transformando, inevitavelmente, a relação dos crentes com Deus numa relação de barganha. Embora essa maneira de se relacionar com Deus atinja os fiéis das igrejas consideradas tradicionais de forma mais branda, é possível perceber, por meio dos cânticos e das orações feitas nos cultos, uma tendência à aceitação dessa relação baseada na troca de favores como algo normal. Isso faz com que muitos evangélicos que não são declaradamente neopentecostais acabem igualmente reduzindo sua vivência religiosa à busca de bênçãos materiais e de conquistas socioeconômicas, não encontrando, na relação com Deus e com os irmãos, a motivação necessária para se tornarem seres humanos melhores em meio a essa sociedade de valores apodrecidos.
O segundo conceito oriundo da ideologia neopentecostal que tem ganhado força nas igrejas tradicionais consiste na ideia de que a igreja, enquanto instituição social, seria vista tão somente como uma casa de eventos, para a qual os muitos espectadores se dirigem no intuito de assistir ao espetáculo do ritual religioso e, depois de algumas horas, voltar para suas casas sem estabelecer nenhuma espécie de vínculo com quem quer que seja. À semelhança do que ocorre nas igrejas neopentecostais, a forma de pensar o ambiente eclesiástico de muitas igrejas tradicionais não tem propiciado o desenvolvimento de relações interpessoais saudáveis e de ações práticas que contribuam para transformar a realidade social na qual tais igrejas estão inseridas, reproduzindo uma vivência religiosa individualista e egocêntrica, em que cada um pensa apenas em “receber sua bênção”. Vale lembrar que essa concepção de igreja, apesar de ser a predominante no meio evangélico atualmente, nada tem a ver com a proposta de comunhão e partilha trazida pelo evangelho de Jesus, na qual a igreja seria uma comunidade em que as pessoas mantêm fortes vínculos de amizade, numa clara relação de envolvimento com os dilemas enfrentados pelos que comungam da mesma fé, para que, ajudando primeiramente umas às outras, fortaleçam-se na missão de serem elementos de transformação da realidade social ao seu redor.
Outro conceito oriundo da ideologia neopentecostal que vem influenciando cada vez mais as igrejas tradicionais é ideia de culto como espetáculo, a partir da qual a liturgia não tem mais a função de conduzir os indivíduos à reflexão e à tomada de uma decisão que transforme suas vidas, mas de seduzi-los por meio do apelo emocional trazido pelas músicas dos mais famosos cantores do meio gospel, pelas longas ministrações enfatizando bênçãos e conquistas, pelas curas e milagres que demonstram um suposto “poder espiritual” e pelos motivadores testemunhos de ascensão financeira instantânea. No caso das igrejas tradicionais, resguardadas as devidas proporções, essa ideia da espetacularização do culto tem provocado algumas mudanças significativas na liturgia, a fim de torná-la mais dinâmica e atrativa para os fiéis, sob o pretexto de um “avivamento espiritual” que parece estar mais interessado na quantidade de pessoas do que na qualidade do culto prestado a Deus. Por conta disso, igrejas que ficaram conhecidas, ao longo da história, por se preocuparem com uma liturgia que apresentasse cânticos e pregações coerentes com os ensinamentos bíblicos estão reproduzindo verdadeiras heresias ligadas à ideologia neopentecostal por meio das músicas evangélicas da atualidade e dos sermões inspirados nos pregadores da mídia televisiva.
Se o culto tem sido erroneamente considerado um espetáculo, a ideologia neopentecostal alterou também a concepção da função pastoral, transformando o líder eclesiástico num verdadeiro pop-star venerado pelas multidões, assoberbado pela participação constante em megaeventos e tomado por uma agenda de tarefas que o impede de se envolver com a vida cotidiana das ovelhas e se dedicar ao cuidado delas. Embora isso aconteça com maior frequência em igrejas neopentecostais, muitas são as igrejas tradicionais que sofrem os efeitos devastadores (ainda que nem sempre percebidos pelos membros) da falta de um pastoreio efetivo em virtude dessa concepção equivocada da função do líder eclesiástico. Cada dia mais é possível encontrar pastores de igrejas tradicionais que, seguindo os moldes neopentecostais, ocupam seu tempo com outras tantas atividades, a ponto de não ter tempo algum, mesmo em igrejas relativamente pequenas, de visitar os membros que estão enfermos, de aconselhar alguém que precise de ajuda ou de cuidar amorosamente das ovelhas desgarradas.
Uma última, mas não menos nociva, influência da ideologia neopentecostal em igrejas tradicionais diz respeito à forma como os fiéis têm sido orientados a conceberem a vida cristã e, por conseguinte, o papel social que devem desempenhar como discípulos de Jesus. Para o neopentecostalismo, a vida cristã se resume à mera prática de uma religiosidade templária incapaz de ocasionar mudanças profundas na forma de pensar e agir das pessoas em seu cotidiano e de contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa, restringindo o papel social do crente ao cumprimento das “obrigações” religiosas na igreja e à propagação quase sempre proselitista desse evangelho religioso. Dentro da concepção neopentecostal do papel social do cristão, tem ganhado cada vez mais força a enganosa ideia de que o reino de Deus pode ser instaurado por meio da política-partidária e, por isso mesmo, crente deve obrigatoriamente votar em crente, fazendo das igrejas verdadeiros “currais eleitorais” e tornando alguns líderes religiosos interesseiros ainda mais poderosos. Influenciados pelo neopentecostalismo midiático, muitas igrejas tradicionais têm conduzido seus membros a uma vivência cristã limitada à frequência nos cultos e à busca de uma espiritualidade que não propicia a prática da justiça social, de comportamentos éticos por parte dos crentes e de ações misericordiosas em favor dos mais necessitados.
      Essas inequívocas constatações acerca da forte influência da ideologia neopentecostal em igrejas consideradas tradicionais precisam nos remeter à inquietante pergunta expressa no título deste texto, reconhecendo que, embora possamos apresentar respostas distintas a depender das nossas convicções, é inegável que a forma como muitas igrejas não filiadas ao neopentecostalismo têm se posicionado atualmente pouco as difere das igrejas declaradamente neopentecostais. Não é à toa que as práticas nada convencionais e, por vezes, reprováveis do neopentecostalismo brasileiro, antes criticadas por pastores e líderes de igrejas tradicionais, agora se proliferam no meio evangélico com uma velocidade assustadora, sendo defendidas com inflamada veemência até mesmo pelos críticos de outrora. Diante desse cenário perturbador, o certo mesmo é que, enquanto damos lugar ao modismo religioso ditado pela ideologia neopentecostal, acabamos nos afastando cada vez mais da essência do verdadeiro Evangelho de Cristo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERGER, Peter; LUCKMANN, Thomas. Modernidade, pluralismo e crise de sentido. Petrópolis: Vozes, 2004.

CUNHA, Magali do Nascimento. A explosão gospel: um olhar das ciências humanas sobre o cenário evangélico no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad e Instituto Mysterium, 2007.

ELIAS, Norbert. Envolvimento e distanciamento: estudos sobre sociologia do conhecimento. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1997.

MARIANO, Ricardo. Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo no Brasil. 2 ed. São Paulo: Loyola, 2005.

MARIANO, Ricardo. Os neopentecostais e a Teologia da Prosperidade. Novos Estudos, n. 44, p. 24-44, Mar/1996.

MEZZOMO, Frank Antonio. Nós e os Outros: Proselitismo e Intolerância Religiosa nas Igrejas Neopentecostais. Revista Fênix, v. 5, p. 01-25, 2008.

PAEGLE, Eduardo Guilherme de Moura. O culto como show entre os evangélicos brasileiros. Anais do XXV Simpósio Nacional de História – História e Ética, Fortaleza: ANPUH, 2009. CD-ROM.

PARAVIDINI, João Luiz Leitão; GONCALVES, Márcio Antônio. Neopentecostalismo: desamparo e condição masoquista. Revista Mal-Estar e Subjetividade, v. 9, n. 4, p. 1173-1202, Dez/2009.

SAQUETTO, Diemerson. A invenção do pastor político: imaginários de poder político construídos a partir da história das bancadas evangélicas. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2007.

SILVEIRA, José Roberto. Pastores em crise: os efeitos da secularização e do neopentecostalismo sobre o clero protestante. Revista Âncora, v. 1, n. 1, p. 106-127, Mai/2006.

WREGE, Rachel Silveira. As Igrejas Neopentecostais: educação e doutrinação. Tese de Doutorado, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2001.

domingo, 26 de maio de 2013

RELIGIÃO, PODER E POLÍTICA NA BAHIA

Por Jurgen Souza

         

Ainda que não estejam, de forma alguma, imunes aos constantes jogos de interesses político-partidários, certamente os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade (instaurada há um ano) e das Comissões Estaduais da Verdade (a da Bahia será instaurada nos próximos dias), darão contribuições significativas para esclarecer os muitos fatos que vieram à tona com a recente abertura dos arquivos do período da ditadura militar. Amparados pela chamada “Lei do Acesso à Informação” (Lei nº 12.527, de 18/11/2011), os membros dessas comissões têm disponibilizado e devem continuar disponibilizando, via internet, cópias digitalizadas dos documentos reveladores de uma das épocas mais sangrentas da história do nosso país. Não é à toa, portanto, que o bispo Átila Brandão, um político influente na atual administração da capital baiana e um líder evangélico bastante conhecido na mídia local, tenha reagido com tamanha sanha às informações que apontam o seu envolvimento com torturas e mortes de estudantes entre os anos de 1968 a 1973, época em que Átila era capitão da Polícia Militar da Bahia e chefiava uma equipe de repressão sediada no quartel dos Dendezeiros.
             Em artigo intitulado “Premunições de Dona Yayá”, publicado no jornal A Tarde em fevereiro de 2013, o deputado e jornalista Emiliano José revela a participação ativa de Átila Brandão no aparato de repressão da ditadura na Bahia. Partindo de uma entrevista gravada com a Srª Maria Helena Rocha Afonso, mãe do historiador Renato Afonso de Carvalho – ex-preso político do período da ditadura militar –, e de uma investigação documental acurada, o artigo relata que, em 1968, o capitão Átila Brandão teria atuado como agente da repressão infiltrado entre os estudantes de direito da UFBA, tendo sido reconhecido, ainda naquele ano, por Renato e seus colegas como o comandante da PM-BA que liderava as violentas ações repressivas contra quaisquer manifestações de oposição ao regime militar. Em virtude dessas descobertas, Renato teria integrado um movimento entre os estudantes para expulsar Átila da Faculdade de Direito da UFBA, gerando, assim, uma nítida desavença entre eles.
            Em fevereiro de 1971, segundo o relato da entrevistada, Renato Afonso de Carvalho teria sido preso e violentamente torturado por militares no Rio de Janeiro. A pedido de Orlando de Carvalho, pai de Renato, Dom Eugênio Salles (arcebispo do Rio de Janeiro naquela ocasião) conseguiu que ele fosse transferido para Salvador sob custódia da PM-BA, na esperança de evitar mais torturas. No entanto, sua volta à Bahia nesse contexto extremamente desfavorável acabou por colocá-lo frente a frente com seu antigo desafeto. Conforme depoimento do próprio Renato Afonso de Carvalho ao Grupo Tortura Nunca Mais da Bahia no dia 25/04/2013, o capitão Átila Brandão, reconhecendo Renato dos episódios na universidade, não quis conversa e imediatamente o levou ao porão do quartel de Dendezeiros, agredindo-o com socos, chutes e xingamentos, à cata de supostas informações sobre um grupo de militantes preso pelo Exército no Paraná. Prestes a enfrentar o “pau-de-arara” e a tomar choques elétricos, táticas de tortura comumente usadas durante o período da ditadura militar, Renato foi salvo pela mãe, que havia ido visitar o filho e, a essa altura, já havia passado pelas sentinelas e estava no corredor em frente ao porão onde o capitão o torturava.
       Além desse fato relatado no artigo de Emiliano José, há evidências documentais que comprovam que o capitão Átila Brandão teria mesmo integrado as forças de repressão da ditadura militar e comandado pessoalmente diversas ações de tortura contra presos políticos nos chamados “anos de chumbo”. Átila é citado reiteradas vezes como agente da repressão por, pelo menos, dois documentos oficiais da época da ditadura (ambos confeccionados pelo antigo Serviço Nacional de Informações – SNI): um documento da agência baiana do SNI, datado de 13/10/1969, e uma ficha elaborada pelo SNI a respeito do preso político Rosalindo Souza, morto e desaparecido na Guerrilha do Araguaia em 1973, mencionam o nome do capitão Átila Brandão como agente da repressão. Negando veementemente essas acusações, o agora bispo de uma grande igreja evangélica de Salvador e influente político do Partido Social Cristão na Bahia, ao invés de buscar esclarecer publicamente os fatos que vieram à tona, tem procurado usar seu poder político e social para calar o jornalista que ousou sacudir a poeira dos documentos antigos e revelar à sociedade baiana uma face até então desconhecida de Átila Brandão.
      Somente a nefasta mistura entre fundamentalismo religioso, poder socioeconômico e influência política presente na figura de Átila Brandão proporcionaria uma reação tão virulenta ao referido artigo: um boletim de ocorrência, uma queixa-crime e duas ações judiciais contra o jornalista, a quem chamou de “pau mandado” e “papagaio de pirata”. Usando sua forte influência na cúpula da sociedade baiana e seu consequente poderio político no nível estadual, o bispo Átila Brandão conseguiu, em 13/05/2013, uma liminar na justiça que ordenava a retirada imediata do artigo em questão do site do referido jornalista. Até mesmo nas pregações de Átila Brandão, transmitidas nas manhãs de sábado pela TV Aratu (afiliada do SBT na Bahia), não faltam relatos de seu prestígio social, de seu poder econômico e de sua influência política, os quais, embora envoltos numa linguagem preponderantemente religiosa, são utilizados como forma de intimidação aos possíveis “inimigos” dos seus anseios nada modestos, já que ele se diz destinado por Deus a presidir o Brasil. Apesar de sua fracassada candidatura ao governo do Estado em 2006, Átila logrou êxito político nas últimas eleições para a prefeitura da capital baiana, em 2012, quando apoiou o agora prefeito ACM Neto e, não por acaso, conseguiu a nomeação de seu filho, Átila Brandão de Oliveira Júnior, para o cargo de assessor especial da subchefia de gabinete do prefeito.
        Ainda que o texto de Emiliano José tenha sido censurado por força de liminar judicial, o caso não deixou de repercutir negativamente e acabou ganhando notoriedade nacional quando a revista Carta Capital publicou, no dia 24/05/2013, o artigo intitulado “O torturador ofendido”, redigido por Leandro Fortes, o qual retoma o conteúdo do texto do jornalista baiano e apresenta novos elementos a respeito da participação de Átila Brandão como agente da repressão da ditadura militar. Segundo essa outra reportagem, “enquanto aguarda a decisão final do Tribunal de Justiça sobre as ações, o jornalista coleciona apoios de entidades de defesa de direitos humanos e reúne novos documentos sobre a participação do ex-capitão da PM na repressão durante a ditadura”. O bispo Átila Brandão, por sua vez, deverá ser um dos primeiros convocados pela Comissão Estadual da Verdade, da qual se esperam o rigor e a isenção necessários a um país verdadeiramente democrático, não permitindo que as relações de poder social, político e religioso soterrem novamente sob a poeira do esquecimento este momento do qual precisamos sempre nos lembrar para que, por meio da atitude ruminante de rememorar, estejamos sempre vigilantes acerca de um possível retorno ao passado. Como cristão autêntico que sou, creio que a um líder religioso que compreendeu a mensagem do Cristo cabia ao menos o reconhecimento da culpa e um pedido público de perdão às vítimas e às suas famílias, mas parece que sua postura autoritária não conseguiu, infelizmente, ser convertida na postura amorosa daquele a quem ele diz seguir.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O EVANGELHO DA PROSPERIDADE À LUZ DA BÍBLIA


Por Jurgen Souza

Antes de qualquer coisa, é preciso que fique bem claro a todos os leitores que não é intenção deste texto ofender nenhuma pessoa ou nenhuma espécie de crença, mas tão-somente fazer uma reflexão bíblica séria acerca da teologia da prosperidade, chamada aqui de “evangelho da prosperidade”, procurando destacar os possíveis equívocos e os prováveis perigos desse tipo de evangelho para uma vida cristã saudável. Portanto, nosso objetivo principal é permitir que, através da leitura e da reflexão acerca dos textos bíblicos aqui mencionados, possamos discernir qual será a mensagem que, como seguidores de Cristo, queremos proclamar ao mundo. Em busca de facilitar a compreensão dos argumentos que pretendo utilizar, preferi estruturar o texto em forma de perguntas e respostas, mas deixo bem claro que não me arrogo detentor da verdade absoluta ou da palavra final sobre esse assunto, respeitando sempre as opiniões contrárias.  

1. É possível crer que Deus pode prosperar a vida das pessoas que o buscam?

Existe, entre pregadores e seguidores do evangelho da prosperidade, a errônea impressão de que quem não concorda com esse tipo de evangelho é porque não acredita que Deus possa abençoar as pessoas que o buscam. É preciso, então, esclarecer que nenhum cristão verdadeiro vai deixar de acreditar que Deus pode sim fazer com que as pessoas que o buscam prosperem e que Ele tem, inclusive, prazer em fazer isso, conforme atestam os seguintes versículos:

Sigam fielmente os termos desta aliança, para que vocês prosperem em tudo o que fizerem.” (Deuteronômio 29:9)

Aquele cuja satisfação está na lei do Senhor e nessa lei medita dia e noite é como árvore plantada à beira de águas correntes: Dá fruto no tempo certo e suas folhas não murcham. Tudo o que ele faz prospera!” (Salmos 1:2-3)

O Senhor seja engrandecido! Ele tem prazer na prosperidade do seu servo.” (Salmos 35:27b)

Não se pode negar que Deus pode e deseja prosperar a vida de todos aqueles que o buscam. O problema, a meu ver, é que pregadores e seguidores do evangelho da prosperidade, salvo raríssimas exceções, costumam associar prosperidade somente à ascensão financeira (de preferência rápida e sem muitos esforços). Essa enganosa associação evidencia uma leitura equivocada da bíblia e abre caminho para a atuação dos muitos exploradores da fé, principalmente quando se está inserido numa realidade social em que boa parte da população anseia melhorias na vida financeira a qualquer custo.
         Creio, com toda a fé que há em mim, que a prosperidade que Deus deseja nos proporcionar envolve diversas áreas da nossa vida. Claro que Deus deseja que tenhamos os recursos financeiros de que precisamos para suprir todas as nossas necessidades (não nossos caprichos consumistas). Todavia, também creio que Deus deseja que tenhamos equilíbrio emocional para lidarmos com nossos dilemas interiores, deseja que tenhamos sabedoria para nos relacionarmos com as pessoas e o com o meio ambiente à nossa volta, e deseja que sejamos alimentados espiritualmente por Ele dia após dia. Tudo isso é prosperidade! 

2. Qual o perigo de compreendermos a prosperidade apenas como bênçãos materiais?

Mais uma vez quero deixar bem claro que eu creio que Deus pode sim nos abençoar com bênçãos materiais, se Ele quiser, quando Ele quiser e da forma como Ele quiser. Todavia o perigo de compreendermos a prosperidade apenas como bênçãos materiais é que podemos inverter o foco principal da vida cristã, dando mais valor à bênção de Deus do que ao Deus da bênção. Isso é algo tão perigoso que Jesus advertiu seus discípulos e o apóstolo Paulo orientou ao jovem pastor Timóteo acerca desse assunto, conforme podemos ver nos seguintes versículos:

Ninguém pode servir a dois senhores, pois odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e às riquezas” (Mateus 6:24)

Os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição, pois o amor ao dinheiro é raiz de todos os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram a si mesmas com muitos sofrimentos. Você, porém, homem de Deus, fuja de tudo isso e busque a justiça, a piedade, a fé, o amor, a perseverança e a mansidão.” (1 Timóteo 6:9-11)

Esse tem sido, a meu ver, o grande engano de muitos pregadores e seguidores do evangelho da prosperidade, já que a forma como pregam e como procuram viver a vida cristã acaba dando muito mais ênfase à prosperidade financeira, fortalecendo a ideia totalmente equivocada de que contribuir financeiramente no reino de Deus é um investimento para que Ele, mais tarde, retribua com bênçãos materiais. A consequência disso é que tem surgido uma geração de crentes que, por investirem seu dinheiro no reino de Deus, julgam-se no direito de exigir que Deus satisfaça todos os seus desejos o mais rápido possível, fazendo de Deus o seu servo ao invés de servir a Ele.   

3. Então quer dizer que Jesus pregava contra a prosperidade financeira?

Não creio sinceramente que Jesus pregava contra a prosperidade financeira dos crentes, mas tenho plena convicção de que ele era contra a busca desenfreada por bens materiais e ao apego demasiado a eles, como se pode perceber nos seguintes versículos:

Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam.” (Mateus 6:19)

Cuidado! Fiquem de sobreaviso contra todo tipo de ganância; a vida de um homem não consiste na quantidade dos seus bens.” (Lucas 12:15)

Se você quer ser perfeito, vá, venda os seus bens e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro no céu. Depois, venha e siga-me.” (Mateus 19:21)

Ao contrário do que fazem os pregadores e os seguidores do evangelho da prosperidade, Jesus não orienta que seus discípulos tenham como prioridade a busca pela prosperidade financeira, mas adverte-os sobre a necessidade de não se preocupar demais com os bens materiais e alerta-os sobre as consequências espirituais dessa busca desenfreada pelos bens materiais, como atestam os seguintes versículos:

Portanto, não se preocupem, dizendo: Que vamos comer? Ou que vamos beber? Ou que vamos vestir? Os gentios é que correm atrás dessas coisas; mas o Pai celestial sabe que vocês precisam delas. Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas.”       (Mateus 6:31-33)

Dificilmente um rico entrará no Reino dos céus. É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus.” (Mateus 19:23-24)

Como se pode ver, o evangelho que Jesus veio anunciar ao mundo trazia advertências bem claras acerca dos perigos de priorizarmos a busca pela prosperidade financeira na nossa vida, pois não era essa a vontade de Deus para aqueles que se aproximam dEle. O mesmo Deus que quer nos abençoar deseja que nossa prioridade seja uma vida digna e reta diante dEle.

4. Como o apóstolo Paulo enxergava a prosperidade financeira?

Assim como Jesus, o apóstolo Paulo também não condenava a prosperidade financeira dos crentes, mas os orientava a não depositar suas esperanças na riqueza e a usar seus bens materiais para ajudar o próximo, afirmando claramente que o reino de Deus não consiste em adquirir bens materiais, conforme podemos perceber nos seguintes versículos:   

Ordene aos que são ricos no presente mundo que não sejam arrogantes, nem ponham sua esperança na incerteza da riqueza, mas em Deus, que de tudo nos provê ricamente, para a nossa satisfação. Ordene-lhes que pratiquem o bem, sejam ricos em boas obras, generosos e prontos para repartir. Dessa forma, eles acumularão um tesouro para si mesmos, um firme fundamento para a era que há de vir, e assim alcançarão a verdadeira vida.” (1 Timóteo 6:17-19)

O Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo.” (Romanos 14:17)

Para o apóstolo Paulo, a verdadeira prosperidade consistia em usar os seus bens materiais, fossem eles poucos ou muitos, para abençoar outras pessoas. Escrevendo aos crentes de Corinto, ele relata que os irmãos da Macedônia, mesmo não sendo ricos, voluntariamente ofertaram aos irmãos da Judéia, os quais estavam enfrentando momentos de necessidade financeira. Tomando como exemplo esse relato, Paulo orienta aos coríntios acerca da necessidade de utilizar suas riquezas para contribuir em favor dos que têm menos condições, como se pode verificar nos seguintes versículos:

Queremos que vocês tomem conhecimento da graça que Deus concedeu às igrejas da Macedônia. No meio da mais severa tribulação, a grande alegria e a extrema pobreza deles transbordaram em rica generosidade. Dou testemunho de que eles deram voluntariamente tudo quanto podiam, e até além do que podiam.” (2 Coríntios 8:1-4)

Todavia, assim como vocês se destacam em tudo: na fé, na palavra, no conhecimento, na dedicação completa e no amor que vocês têm por nós, destaquem-se também neste privilégio de contribuir. Não lhes estou dando uma ordem, mas quero verificar a sinceridade do amor de vocês, comparando-o com a dedicação dos outros. Pois vocês conhecem a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, se fez pobre por amor de vocês, para que por meio de sua pobreza vocês se tornassem ricos.”                     (2 Coríntios 8:7-9)

Devemos nos lembrar de que, embora o apóstolo Paulo não condenasse a prosperidade financeira, já vimos anteriormente que ele fez questão de advertir que tomássemos cuidado para que a busca por bens materiais não nos afastasse de fé ou nos trouxesse tormentos e sofrimentos, conforme atesta o seguinte versículo:

O amor ao dinheiro é raiz de todos os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram a si mesmas com muitos sofrimentos.” (1 Timóteo 6:10)


5. É verdade que o Antigo Testamento orienta a busca pela prosperidade financeira?

Um dos erros dos pregadores e dos seguidores do evangelho da prosperidade é afirmar que o Antigo Testamento legitima e orienta a busca pela prosperidade financeira. É verdade que o Antigo Testamento traz uma série de versículos que falam da prosperidade do povo de Deus, afirmando inclusive que Deus cuida daqueles que o temem, mas o equivoco, como já foi dito, está em interpretar prosperidade apenas como bênçãos materiais.
O salmista, por exemplo, afirma que não há prosperidade maior do que temer ao Senhor e andar nos seus caminhos, destacando que nossa esperança não deve estar nos bens materiais que acumulamos e sim no Deus que cuida de nós a todo instante, conforme se observa nos seguintes versículos:

O temor do Senhor é puro e dura para sempre. As ordenanças do Senhor são verdadeiras, são todas elas justas. São mais desejáveis do que o ouro, do que muito ouro puro; são mais doces do que o mel, do que as gotas do favo.” (Salmos 19:9-10)

Deste aos meus dias o comprimento de um palmo; a duração da minha vida é nada diante de ti. De fato, o homem não passa de um sopro. Sim, cada um vai e volta como a sombra. Em vão se agita, amontoando riqueza sem saber quem ficará com ela. Mas agora, Senhor, que hei de esperar? Minha esperança está em ti.” (Salmos 39:5-7)

O livro de Provérbios afirma que a verdadeira prosperidade não consiste em acumular bens materiais, mas em ter sabedoria dada por Deus e viver uma vida reta e digna diante dEle, como vemos nos seguintes versículos:

Prefiram a minha instrução à prata, e o conhecimento ao ouro puro, pois a sabedoria é mais preciosa do que rubis; nada do que vocês possam desejar compara-se a ela.”               (Provérbios 8:10-11)

De nada vale a riqueza no dia da ira divina, mas a retidão livra da morte.” (Provérbios 11:4)

O livro de Eclesiastes, por sua vez, adverte para o fato de que as pessoas que buscam desenfreadamente a prosperidade financeira acabam nunca se contentando com o que têm, sempre ambicionando ter mais e mais, como podemos ver no versículo a seguir:

Quem ama o dinheiro jamais terá o suficiente; quem ama as riquezas jamais ficará satisfeito com os seus rendimentos. Isso também não faz sentido.” (Eclesiastes 5:10)


6. É correto considerar o ato de dizimar ou ofertar como a chave para a prosperidade financeira?

Antes de qualquer explicação, deixo bem claro que, a meu ver, dizimar e ofertar são práticas que precisam fazer parte da vida de qualquer cristão verdadeiro. Todavia, dizer que isso é a chave para a prosperidade financeira é certamente o maior engano dos pregadores e dos seguidores do evangelho da prosperidade. Se fosse assim, as pessoas não-crentes, que não costumam dizimar e ofertar, jamais conseguiriam prosperar financeiramente, e não é isso que vemos no dia a dia.
O que as pessoas precisam entender é que dizimar e ofertar são, na verdade, atitudes de gratidão a Deus pelo seu cuidado para conosco. A primeira vez que a palavra “dízimo” aparece na bíblia é justamente quando Abraão vence uma guerra contra alguns reis e, em agradecimento a Deus, dá o dizimo de tudo quanto tinha, conforme se pode comprovar nos versículos a seguir:

Então Melquisedeque, rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo, trouxe pão e vinho e abençoou Abrão, dizendo: "Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, Criador dos céus e da terra. E bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou seus inimigos em suas mãos". E Abrão lhe deu o dízimo de tudo.” (Gênesis 14:18-20)

É preciso lembrar também que a sociedade do Antigo Israel era uma sociedade agrícola e, diferentemente do que acontece hoje, o dízimo era dado em forma de gêneros alimentícios, especificamente os retirados das primeiras colheitas, como forma de agradecer a Deus pela fertilidade da terra e pela colheita realizada, não sendo considerado por ninguém um peso ou uma maneira de barganhar com Deus. O povo dizimava e ofertava com o coração grato a Deus pelo seu cuidado e pela sua provisão, conforme podemos verificar nos seguintes versículos:

Traga o melhor dos primeiros frutos da terra ao santuário do Senhor, o seu Deus.” (Êxodo 34:26a)

Quando vocês tiverem entrado na terra que o Senhor, o seu Deus, lhes dá por herança e dela tiverem tomado posse e lá estiverem estabelecidos, apanhem alguns dos primeiros frutos de tudo o que produzirem na terra que o Senhor, o seu Deus, lhes dá e ponha tudo numa cesta. Depois vocês deverão ir ao local que o Senhor, o seu Deus, escolher para habitação do seu Nome.” (Deuteronômio 26:1-2)

Se houver alguma chave para a nossa prosperidade financeira, certamente não será a simples ação de dizimar e ofertar, mas será o fato de termos um coração grato a Deus por tudo que Ele nos tem feito.  É a nossa gratidão a Deus no ato de dizimar e de ofertar que faz com que Ele sinta prazer em nos abençoar, inclusive financeiramente. Portanto, é assim que devemos entender as promessas de prosperidade relacionadas a dízimos e ofertas, como as que aparecem nos versículos a seguir:
  
Honre o Senhor com todos os seus recursos e com os primeiros frutos de todas as suas plantações; os seus celeiros ficarão plenamente cheios, e os seus barris transbordarão de vinho.” (Provérbios 3:9-10)

Tragam o dízimo todo ao depósito do templo, para que haja alimento em minha casa. Ponham-me à prova, diz o Senhor dos Exércitos, e vejam se não vou abrir as comportas dos céus e derramar sobre vocês tantas bênçãos que nem terão onde guardá-las. Impedirei que pragas devorem suas colheitas, e as videiras nos campos não perderão o seu fruto, diz o Senhor dos Exércitos.” (Malaquias 3:10-11)

Quem compreende que dizimar e ofertar são ações que evidenciam um coração grato a Deus jamais vai pensar que existe na bíblia uma lei da semeadura, mas terá a convicção de que existe sim a lei da gratidão. Como muitos pregadores e seguidores do evangelho da prosperidade não compreendem isso, eles acabam fazendo uma leitura equivocada da orientação do apóstolo Paulo aos coríntios. A afirmação de Paulo é de que Deus abençoa sim aquele que oferta na obra do Senhor, mas o apóstolo destaca claramente que essa bênção, que não necessariamente tem relação com bens materiais, é para quem oferta com o coração alegre e cheio de gratidão, como podemos perceber nos seguintes versículos:

Aquele que semeia pouco, também colherá pouco, e aquele que semeia com fartura, também colherá fartamente. Cada um, porém, dê conforme determinou em seu coração, não com pesar ou por obrigação, pois Deus ama quem dá com alegria. E Deus é poderoso para fazer que lhes seja acrescentada toda a graça, para que em todas as coisas, em todo o tempo, tendo tudo o que é necessário, vocês transbordem em toda boa obra.” (2 Coríntios 9:6-8)

Paulo não está falando que Deus abençoa mais quem der mais oferta, mas está alertando que quem se envolve menos com a obra de Deus, deixando de ser grato a Ele inclusive nas ofertas, certamente está abrindo mão da possibilidade de ser abençoado por Deus. Não se trata de uma questão de barganha com Deus, mas de uma questão de gratidão a Ele, pois nós não podemos “comprar” a bênção daquele que é dono do ouro e da prata; ao contrário, nós é que fomos “comprados” por Ele através do sangue de Jesus derramado na cruz do calvário.

7. Seria errado, então, um crente desejar ser próspero financeiramente?

Claro não é errado um cristão desejar ser próspero financeiramente! Todavia, como já foi dito anteriormente, é importante tomarmos cuidado com dois grandes perigos: acabarmos dando mais valor à bênção de Deus do que ao Deus da bênção e criarmos uma relação de barganha com Deus, fazendo dEle nosso servo ao invés de nós o servirmos. Trago aqui três conselhos que, a meu ver, são úteis para quem quer ser próspero financeiramente, sem que precise deixar de lado a essência da mensagem de Jesus.
(1) Procure usufruir de seus bens materiais com atitudes de justiça em relação aos outros, não defraudando nem humilhando quem quer que seja, especialmente os mais necessitados, como podemos perceber ao refletirmos sobre os versículos a seguir:

Ouçam agora vocês, ricos! Chorem e lamentem-se, tendo em vista a miséria que lhes sobrevirá. A riqueza de vocês apodreceu, e as traças corroeram as suas roupas. O ouro e a prata de vocês enferrujaram, e a ferrugem deles testemunhará contra vocês e como fogo lhes devorará a carne. Vocês acumularam bens nestes últimos dias. Vejam, o salário dos trabalhadores que ceifaram os seus campos, e que por vocês foi retido com fraude, está clamando contra vocês. O lamento dos ceifeiros chegou aos ouvidos do Senhor dos Exércitos. Vocês viveram luxuosamente na terra, desfrutando prazeres, e fartaram-se de comida em dia de abate. Vocês têm condenado e matado o justo, sem que ele ofereça resistência.” (Tiago 5:1-6)

(2) Procure repartir o que você tem, seja pouco ou seja muito, com os que estão à sua volta, especialmente com os que mais precisam, conforme se pode observar nos versículos a seguir:

A multidão dos que creram era uma só mente e um só coração. Ninguém considerava coisa alguma que possuísse unicamente sua, mas compartilhavam tudo o que tinham. Com grande poder os apóstolos continuavam a testemunhar da ressurreição do Senhor Jesus, e grandiosa graça estava sobre todos eles. Não havia pessoas necessitadas entre eles, pois os que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro da venda e o colocavam aos pés dos apóstolos, que o distribuíam segundo a necessidade de cada um.” (Atos 4:32-35)

(3) Mesmo que sua situação financeira não seja das melhores, procure ser feliz e ter o coração agradecido a Deus por aquilo que você já tem, como podemos entender através da leitura dos versículos a seguir:

Mesmo não florescendo a figueira, não havendo uvas nas videiras; mesmo falhando a safra de azeitonas, não havendo produção de alimento nas lavouras, nem ovelhas no curral nem bois nos estábulos, ainda assim eu exultarei no Senhor e me alegrarei no Deus da minha salvação.” (Habacuque 3:17-18)

Não estou dizendo isso porque esteja necessitado, pois aprendi a contentar-me em toda e qualquer circunstância. Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver alegre em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade.” (Filipenses 4:11-12)


8. E agora, o que fazer?

Depois de darmos esse passeio por várias passagens bíblicas e de refletirmos sobre os fundamentos bíblicos acerca da prosperidade, creio que podemos escolher, como seguidores de Cristo, que tipo de evangelho queremos viver no dia a dia e proclamar ao mundo através da nossa pregação. Como já foi dito na introdução deste texto, o conteúdo aqui explicitado não pretendeu ofender nenhuma pessoa ou nenhuma espécie de crença, mesmo porque seu autor não se posiciona como dono da verdade e respeita as opiniões contrárias. Minha esperança, então, é que tal reflexão bíblica possa ter contribuído para que nos aproximemos cada vez mais do evangelho que Jesus veio proclamar ao mundo. Que Deus nos abençoe!